Podemos ser todos semeadores, de sementes, de histórias, de idéias, de Ética, de Amor (Foto montagem: Marise Jalowitzki/Arquivo Pessoal) |
Ver a evolução da Vida é sempre emocionante. A transformação, os estágios, a plenitude.
A doação de uma planta, de uma flor, de um fruto é de uma singeleza e, ao mesmo tempo, de uma Força e Energia comoventes.
Faz tempo que guardo sementes de todas as frutas que consumimos.
Dá um certo trabalho, sim, pois elas precisam estar bem secas antes de serem guardadas, senão mofam.
Lembro de um primeiro ano em que guardei muitas sementes de melancia, pois havia lido que no oriente guardam as sementes, depois trituram e fazem farinha, com que produzem um pão. Queria experimentar, saber o gosto. Quando já tinha uma quantia considerável, fui pegar o pote para triturar as sementes e, para minha surpresa, estavam mofadas! Não haviam secado totalmente, apesar da aparência!
Fiquei bastante chateada, à época.
Guardei mais algumas, o suficiente para uma panqueca. Mas, sei não, não consegui deixar uma farinha fina, fica meu granulada e não gostei.
Tenho várias "histórias" de sementes, mas hoje quero comentar sobre as sementes de pêssego, em especial.
algumas sementes sequinhas (Arquivo Pessoal) |
Há pouco vi o quanto já tenho, de novo, de muitas espécies de frutas. A filha leva, em suas viagens de negócios com o esposo e espalha pelos caminhos.
A Natureza e a força de cada semente é que decidem seu destino. Se vão conseguir brotar e se desenvolver, ou não.
Assim como nós, na Vida.
E a idéia de jogar sementes pelos caminhos veio de várias conclusões:
- Eu já contava uma história parecida em meus eventos e cursos, há décadas.
- Não vou mais ter um outro sítio para poder plantar.
- Já nem tenho idade pra fazer isto, com o devido cuidado que as plantinhas precisam ter.
- Ainda cultivo o que posso em meu pequeno terraço de 5º andar.
- Faço mudas e distribuo.
- São muitas sementes, a Natureza é pródiga, dá muito mais do que se pode aproveitar individualmente.
- É preciso ir alterando os sonhos à medida que se avança nos anos.
Aí me veio à mente a seleção que fiz no apartamento que foi de minha mãe. Coube a mim selecionar as coisas que iriam para doação e as que iriam simplesmente ser descartadas.
E minha surpresa ao encontrar um saco cheinho de sementes de pêssego, guardado em seu guarda roupas...
E lembrei do quanto ela sempre gostou de pêssegos. "Pfirsich", em alemão, sua linguagem herdada dos pais e ancestrais.
Recordei com nostálgica alegria nós, sentados em círculo em banquetas, ao redor de um baldão cheio de água e pêssegos, comendo até se fartar! Que beleza! Que delícia! Que congraçamento!
Não foram muitas vezes que isto aconteceu, pois a situação, na maioria, era de 'cinto apertado'... Mas foram suficientes pra semear tantas boas lembranças!
E a mais comilona era, justamente, a mãe. Ela dizia: "Jetz schegtz! Ist genug" (Agora chega! É o suficiente!"), mas não parava! E quando eu lhe perguntava porque ela continuava, se já havia dito que iria parar, ela respondia sorrindo:
"- Precisamos parar de comer no momento em que mais saboroso está, pra não engordar, nem fazer mal!"
E eu olhava pra ela, sorrindo também, sem entender porque dizia aquilo, se continuava comendo...
Aí ela arrematava:
"- Só estou procurando mais um tão doce quanto o último que comi!" rsrsrs
Hoje, ao verificar o quanto as minhas sementes de pêssego estão já secas, lembrei dos dois pés que estão crescendo no meu pequeno terraço, lindos modelitos, brotados de sementes que deveriam estar uns 5 anos ou mais em algum vaso. E sorri. Não se precisa mais do que isto! Independente se vou conseguir ou não vê-los dar frutos.
Como não se precisa de muita coisa para sorrir, lembrar com carinho e agradecer as oportunidades de uma vida simples e próxima.
Desapego.
Reverência e Gratidão, minha mãe!
Gratidão e muito Carinho, minha filha, que hoje espalha as sementes pelos caminhos!
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Marise Jalowitzki é mãe, avó, sogra, irmã, tia, filha, neta, amiga, cidadã.Também é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas.Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano. Querendo, veja aqui
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