segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Álcool, ponto cego da saúde em todo mundo, mata mais pessoas anualmente do que HIV, tuberculose e malária, juntos

@ Pexels

Toda a matéria está publicada no The Lancet, um dos mais credenciados do mundo. O original (que menciono ao final), mostra bem o jogo publicitário envolvido nesta indústria, as grandes instituições que fazem 'vista grossa', que não divulgam dados.

O álcool é responsável por mais de 25% das mortes mundiais em pessoas de 20 a 39 anos e mata mais de 3 milhões de pessoas todos os anos.

Uma festinha, uma comemoração, uma promoção no trabalho, um anúncio oficial de casamento, tudo costuma ser 'regado' com alguma bebida alcoólica. 

O que poucos sabem, no entanto, é que o álcool mata mais pessoas anualmente do que HIV, tuberculose e malária, juntos. 

Isto é simplesmente assustador, principalmente pela negligência com que o tema é tratado. 

Frases conhecidas por todos nós: 
"Se beber, não dirija!"
"Beba com moderação" não afetam o dia a dia do consumidor, face à disseminação crescente da publicidade envolvida.

Droga lícita, que pode ser usada para "brindar" ou como escape para alguma frustração. Neste último, inegável a inicial sensação de "consolo" que provoca. Rua perigosa, que só tende a se estender. Um problema que aflige a todos, sejam consumidores ou familiares destes. 

Como "arma química" para o cérebro, alguns conseguem moderar e assumem o papel de "beber socialmente". Para muitos outros, não. Seja por fatores genéticos, seja por imunidade baixa, seja por estar passando por perrengues (indesejáveis situações), sempre é um risco. 

E aí começa outra dolorosa caminhada: a procura por drogas psiquiátricas, especialmente antidepressivos, que, a médio prazo, terminam por exacerbar o quadro. E a roleta russa está instaurada. A mistura do psicotrópico com álcool é simplesmente D-E-T-O-N-A-D-O-R-A!!!

Melhor é não beber álcool. Nem começar. Dá pra brindar com tantos sucos gostosos! Tudo questão de costume.

O uso de bebidas alcoólicas provoca tantos danos, o indivíduo já não tem a mesma clareza e discernimento, o álcool deixa "tudo mais fácil": Violência, brigas, assédio, mutilações, chegando até em suicídios e assassinatos. 

"Eu não queria matar ele!!!"

Lembro de um início de noite, passando em frente à emergência de um hospital próximo, um homem, rapaz jovem, ajoelhado, gritando: "Não é possível! Não pode ser! Eu não queria matar ele!!!" O amigo estava morto. Os dois, mais outros amigos, bebendo em um bar, assistindo jogo de futebol. Certa altura se desentenderam, todos embriagados, ele quebrou uma garrafa e "partiu pra cima"! Foi fatal. Levaram o rapaz atingido ao hospital, mas ele não resistiu. Teve um super hemorragia. 

Os berros do homem traziam, sim, o eco da desgraça. Para o amigo que se foi e para ele próprio, pois foi o responsável e seria preso... E as famílias de ambos? 

Morte ao volante de toda uma família, mais um 

Além de mortes ao volante, tantas vezes envolvendo transeuntes, ou pessoas que estão em outro veículo, por total irresponsabilidade provocada pela liberação psicológica que o consumo do álcool provoca.

Há poucas semanas tivemos aqui no RS a morte de uma família (casal e um menininho), depois de uma festa. Voltavam de madrugada para casa. Em determinado momento, o carro invadiu a pista na contramão e um senhor idoso, calmamente dirigindo seu carro, que vinha em sentido contrário, morreu também.

Mas, e os estragos de todas as outras drogas?

Sim, você poderá dizer: E as outras drogas? Claro que vivemos um verdadeiro caos, com muitos produtos que prejudicam e transgridem o bom senso que deveria nortear a vida em sociedade. 

Lembro de um curso que fiz na Cruz Vermelha, há décadas, sobre a realidade de todas as drogas. E os ministrantes eram unânimes: As duas portas de entrada para a drogadição, ilícita ou lícita (medicação psicotrópica prescrita), chamam-se: TABAGISMO E ÁLCOOL.

Tabagismo: Segundo relatório da OMS (2018) o consumo mundial diminuiu desde 2000, mas os resultados, em níveis globais, ainda são considerados insuficientes. Apesar das inscrições e imagens terríveis que estão apostas nas carteiras de cigarro, tem de continuar com a conscientização. Depois, é uma decisão do indivíduo. Mas, avisado, ele está!


Imagem: Paho.org - OPAS/OMS 






Por que, então, o fumo recebe tantas recomendações e impostos e o álcool, não?










Com o álcool, no entanto, as recomendações publicitárias não acontecem. Não há campanhas maciças, não há advertências nas embalagens, nem impostos cobrados pela periculosidade advinda. 
"Tributar o álcool é uma das estratégias MAIS SEGURAS. A OMS tem taxas de imposto recomendadas para o tabaco (pelo menos 70% do preço final), também para bebidas adoçadas com açúcar (a 20%), mas não para o álcool. No entanto, essa negligência não se limita à OMS; muitas instituições internacionais e agências da ONU e estados membros envolvidos na saúde continuam ignorando o controle do álcool." (Robert Marten, Gianna Gayle Herrera Amul, Sally Casswell em Álcool, o ponto cego da Saúde Global).

De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), o álcool é um carcinógeno do Grupo 1, assim como o amianto e o tabaco, podendo causar vários tipos de câncer, sendo que os riscos estão associados ao consumo de bebidas em qualque dose!



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Minha experiência familiar

Em meu círculo familiar muitas pessoas foram dependentes do álcool. Meu pai foi um destes entes queridos. 

Fez uso da "dobradinha" fumo-álcool. E quando se casou nem podia sentir o cheiro de bebida alcoólica. Mas já fumava. Este caminho é costumeiro, avisaram os especialistas da Cruz Vermelha, naquela ocasião. Depois, em viagens longas exercendo sua profissão, acabou se associando a parcerias que o levaram a se tornar um alcoolista. Escrevi um pouco sobre, aqui. 

Aos quarenta anos já sofria de intensas dores no fígado, batia na esposa (primeiro, em minha mãe; depois, na nova companheira). 

Uma vida de inferno, pois, após os episódios, ao fim da ressaca, voltava a ser o homem bom que efetivamente era na essência, educado, terno, alegre... até a próxima... Isto é um flagelo pra todos os que convivem. 

Ao final, entre outras complicações, o tabagismo lhe concedeu DBPOC (Doença Bronco Pulmonar Obstrutiva Crônica) e cirrose hepática. É sabido o quanto o consumo de álcool de forma costumeira acaba lesando especialmente o fígado.

Encontrar o corpo no necrotério, após o falecimento, para liberar o trabalho da funerária, coube a mim. Encontrar aquele cadáver com o tronco TÃO erguido, arcado (pra cima), a boca muito aberta, foi mais um quadro muito doloroso que enfrentei em minha vida.  

Deprimente. Triste. 

Lares desfeitos, infelicidade espalhada, sequelas emocionais seja em quem formava a parceria emocional, seja nos filhotes advindos. Mortes decorrentes. 

Absoluta situação de impotência!

Não, não é pra isto que nascemos!

Álcool, uma praga disseminada a serviço da indústria que lucra com as doenças. Sim, pois nada pára após o esvaziar do copo. E a dependência, já sabemos quais consequências apresenta! 


Doenças não transmissíveis representam 72% das mortes globais.



NÃO ENTRE NESSA! E, se já entrou, SAIA DESSA!!! 
Quanto antes, melhor! 

Alimentação correta, exercício físico, sono de qualidade.
Vai firme, antes que fique dependente!!
Daqui, torcendo pra que dê certo!



Neste artigo do The Lancet, o conteúdo produzido por Robert Marten, Gianna Gayle Herrera Amul, Sally Casswell . Vale por demais ler na íntegra. Querendo, acesse:
Álcool, o ponto cego da saúde global - Publicado por Elsevier Ltd. Artigo de Acesso Aberto sob a licença CC BY 4.0.


Links:
Leia o artigo original da íntegra (em inglês), no Lancet: https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S2214-109X%2820%2930008-5
Ou leia, na íntegra, esta tradução e edição em português: https://www.previna.info/post/%C3%A1lcool-o-ponto-cego-da-sa%C3%BAde-global?fbclid=IwAR2dSzbCiXqgTGFgeD1-XIUpsJAqC2WEHHDdoJqk2Zu7xN83_qZAgI8aNuI
OPAS/OMS - Sobre o Cigarro (e imagem do coração): https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5688:consumo-de-tabaco-esta-diminuindo-mas-ritmo-de-reducao-ainda-e-insuficiente-alerta-novo-relatorio-da-oms&Itemid=839
Foto do topo: https://www.pexels.com/pt-br/foto/alcool-bebado-bebida-alcoolica-copo-3240/
Foto da criança no sofá: https://www.pexels.com/pt-br/foto/angustia-crianca-dentro-de-casa-descalco-262103/

Link deste post: https://diariodaultimaetapadavida.blogspot.com/2020/02/alcool-ponto-cego-da-saude-em-todo.html





Marise Jalowitzki é mãe, avó, sogra, irmã, tia, filha, neta, amiga, cidadã.Também é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas.Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano. Querendo, veja aqui



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